Cerca de 13% da população de Santa Maria recebe Bolsa Família

A vida de Andressa Câmara, 22 anos, retrata fielmente o perfil do beneficiário do Bolsa Família no país. Negra, mãe de dois filhos e com baixa escolaridade - ela cursou até a 7ª série -, Andressa cria e sustenta os dois filhos, uma menina de 3 meses e um menino de 7 anos, com uma renda que já foi de R$ 200 mensais. O dinheiro, que vem com faxinas ocasionais em casas de família, serve para pagar a alimentação, comprar roupas e pagar as contas da casa de quatro cômodos dada pelo governo em um loteamento na Vila Tomazetti. O marido, que recentemente voltou ao trabalho, como serviços gerais, ajudou a engrossar a renda familiar. Apesar disso, o rendimento é baixo e nem sempre chega a um salário mínimo nacional, no valor de R$ 724.

Andressa recebe, há três anos, R$ 32 mensais por meio do Bolsa Família. O benefício é pago por causa da baixa renda familiar e do filho que frequenta a escola, exigências do programa.
- Dá para comprar pão e leite para as crianças. Dá, sim, uma ajuda - conta.

Apesar de parecer irrisório, os R$ 32 recebidos por Andressa representam cerca de 16% da renda média mensal da família da jovem, percentual que não se tornaria inexpressivo em nenhum orçamento doméstico. O recebimento do benefício não é motivo de vergonha para Andressa, que pretende mudar de vida assim que a filha recém-nascida crescer.
- Ter um emprego fixo e com um salário certo seria melhor - reflete.

Em Santa Maria, o número de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família chegou a 12.877 em 2013, segundo o governo federal. Estimando que cada família seja formada por 2,8 pessoas, segundo dados do IBGE no Estado, isso representaria 36 mil pessoas na cidade ou 13% da população.  Em 2004, quando o programa começou, a cidade tinha 8.584 famílias beneficiadas. Em uma década, o valor recebido por Santa Maria por meio do programa saltou de R$ 3,2 milhões para os atuais R$ 16,4 milhões de 2013, conforme dados do governo federal. O valor é semelhante à verba total da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. São cerca de R$ 1,3 milhão que entram na economia santa-mariense todo o mês pelas mãos dos portadores do cartão do programa.

O sobe e desce no número de beneficiários tem uma explicação: muitos se tornam independentes do programa por conseguirem emprego fixo, e outros acabam voltando a ele após perderem renda.

Para alguns, ajuda é um empurrão para dias melhores

Marisa Roubuste, 42 anos, é um exemplo de quem está deixando o benefício. Depois de três anos recebendo cerca de R$ 96 por mês do Bolsa Família, arrumou emprego fixo e vai entregar o cartão. Casada e mãe de três filhos, ela conta que pediu o benefício quando o marido estava desempregado, e a renda familiar era pouca para atender às necessidades da família.

- Eu tinha emprego ocasional como doméstica. O dinheiro ajudava muito nas coisas do dia. Dava para comprar arroz, feijão. Ajudava. Vejo as pessoas criticarem muito (o Bolsa Família), mas só quem passa por necessidade sabe como é útil. Claro que tem quem faça mau uso, mas a maioria precisa mesmo - avalia.
Hoje, estudante de Pedagogia na UFSM e monitora de uma escola municipal, e com o marido empregado, ela já não necessita mais da ajuda do governo e comemora a independência.
- É bom conquistar as coisas.

Reflexos já são vistos aqui, diz secretária

Um estudo do Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas (Ipea) apontou que o Bolsa Família foi responsável por cerca de 20% da redução da desigualdade de renda no Brasil. A política pública impulsionou a diminuição na taxa de extrema pobreza (entre 2001 e 2011, passou de 8% para 4,7% da população brasileira). Os números são traduzidos por reflexos na vida dos beneficiários, aponta Margarida Mayer, secretária municipal de Desenvolvimento Social. Ela revela que os agentes da prefeitura que atuam no programa apontam uma mudança bastante significativa, principalmente, na vida de criança"